Novo tipo
de computação usa "poeira mágica" de luz e matéria
Redação
do Site Inovação Tecnológica - 05/10/2017
A solução
para o mínimo global aparece por fotoluminescência. [Imagem: Natalia
Berloff/Universidade de Cambridge]
Melhor não duvidar
A professora russa Natalia
Berloff, atualmente na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, tem um
histórico de descobertas importantes, como quasipartículas que tornam a mecânica
quântica visível a olho nu, além de ter ajudado a elucidar o
mistério dos objetos tipo elétron não identificados.
Mas, há alguns anos, quando ela e
seus colegas do Instituto Skolkovo de Ciência e Tecnologia da Rússia tentaram
demonstrar que partículas quânticas poderiam ser usadas para criar um novo tipo
de computação, as revistas científicas acharam a ideia revolucionária demais e
simplesmente se recusaram a publicar suas ideias, até então apenas teóricas.
"Um revisor disse: 'Quem
seria louco o suficiente para tentar implementar isso?!' Então nós tivemos que
fazê-lo nós mesmos, e agora provamos nossa proposta com dados
experimentais," contou ela.
Encontrar o mínimo global
Berloff propõe fazer computação
usando o que ela chama de "poeira mágica", quasipartículas que
combinam luz e matéria, conhecidas como polaritons, e que estão na base de uma tecnologia
emergente chamada plasmônica.
A ideia é usar os polaritons para
que eles encham espaços vazios apontando diretamente para a solução mais
simples para os problemas mais complexos. As previsões indicam que esse tipo de
computação irá superar em velocidade e complexidade qualquer supercomputador atual e mesmo
os futuros computadores quânticos.
Virtualmente toda a computação
que fazemos hoje - da modelagem do dobramento de proteínas até o comportamento dos
mercados financeiros, a concepção de novos materiais e o envio de missões
totalmente automatizadas para o espaço profundo - depende da nossa capacidade
de encontrar a solução ideal para a formulação matemática de um problema: o
número mínimo absoluto de passos que leva para resolver esse problema.
O que a professora Berloff
percebeu é que a busca de uma solução matemática ideal é análoga à procura do
ponto mais baixo em um terreno montanhoso com muitos vales, fossos e poços. Um
andarilho pode descer uma colina e pensar que alcançou o ponto mais baixo de
toda a paisagem, mas pode haver um vale mais profundo logo atrás da próxima
montanha.
Se essa busca já parece um tanto
assustadora em um terreno natural - "Quem seria louco o suficiente para
tentar isto?", lembra-se? - imagine a complexidade quando se considera um
espaço de várias dimensões. "Este é exatamente o problema com que temos
que lidar quando a função que queremos minimizar representa um problema da vida
real com muitas incógnitas, parâmetros e restrições," explicou Berloff.
Mesmo um computador quântico,
quando construído, oferecerá, na melhor das hipóteses, a aceleração quadrática
para a busca do mínimo global por meio de uma abordagem do tipo "força
bruta". Os supercomputadores modernos só conseguem lidar com um pequeno
subconjunto desses problemas, quando a dimensão da função a ser minimizada é
pequena ou quando a estrutura subjacente ao problema permite encontrar a
solução ideal rapidamente mesmo para uma função de grande dimensionalidade.
Os polaritons usados como "poeira mágica"
são a base de um outro estado da matéria conhecido como luz superfluida. [Imagem:
Polytechnique Montreal]
Computação com poeira mágica
Berloff e seus colegas encararam
esse problema de um ângulo inesperado: E se, em vez de andar por todo o terreno
montanhoso em busca do ponto mais baixo, você encher a paisagem com uma poeira
mágica que tenha a propriedade de só brilhar no nível mais profundo? Pronto, a
solução aparecerá na hora de forma muito rápida.
Eles criaram a poeira mágica de
polaritons disparando um laser sobre camadas empilhadas de átomos selecionados,
como gálio, arsênio, índio e alumínio. Os elétrons nessas camadas absorvem e
emitem luz de uma cor específica. Os polaritons são dez mil vezes mais leves do
que os elétrons e podem atingir densidades suficientes para formar um estado da
matéria conhecido como condensado de Bose-Einstein, no qual as fases
quânticas dos polaritons se sincronizam, criando um único objeto quântico
macroscópico que pode ser detectado através de medições de fotoluminescência -
veja mais detalhes na pesquisa anterior do grupo que demonstrou as quasipartículas que tornam a mecânica
quântica visível a olho nu.
Faltava então o passo essencial:
criar uma paisagem que corresponda à função a minimizar e forçar a poeira
mágica a se condensar no seu ponto mais baixo.
Para fazer isso, o grupo se
concentrou em um tipo particular de problema de otimização, mas um tipo que é
genérico o suficiente para que qualquer outro problema difícil possa ser
simulado. Esse problema é a chamada minimização do modelo XY, que é um dos
modelos mais fundamentais da mecânica estatística.
A equipe então criou polaritons
nos vértices de um grafo arbitrário. À medida que os polaritons se condensam,
suas fases quânticas se organizam em uma configuração que corresponde ao mínimo
absoluto da função.
Com essa demonstração prática, o
revisor achou que a equipe não era tão maluca assim e o artigo científico foi
levado a sério e publicado.
"Estamos apenas no início da
exploração do potencial dos grafos de polaritons para resolver problemas
complexos," disse professor Pavlos Lagoudakis, coautor do trabalho e
responsável pelos experimentos. "Agora estamos expandindo nosso
dispositivo para centenas de nós, enquanto testamos seu poder computacional
fundamental. O objetivo final é [construir] um simulador quântico em um
microchip que funcione em condições ambientais".
Bibliografia:
Realizing the classical XY Hamiltonian in polariton simulators
Natalia G. Berloff, Matteo Silva, Kirill Kalinin, Alexis Askitopoulos, Julian D. Töpfer, Pasquale Cilibrizzi, Wolfgang Langbein, Pavlos G. Lagoudakis - Nature Materials - DOI: 10.1038/nmat4971
Realizing the classical XY Hamiltonian in polariton simulators
Natalia G. Berloff, Matteo Silva, Kirill Kalinin, Alexis Askitopoulos, Julian D. Töpfer, Pasquale Cilibrizzi, Wolfgang Langbein, Pavlos G. Lagoudakis - Nature Materials - DOI: 10.1038/nmat4971
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