Um
panorama
dos
avanços da física
História da física: artigos, ensaios
e resenhas | Cássio Leite Vieira | CBPF, 198 páginas, gratuito
RICARDO AGUIAR |
ED. 234 | AGOSTO 2015
Explicar
para um público amplo como algumas das maiores descobertas da física foram
feitas não é tarefa simples. Em História da física: artigos,
ensaios e resenhas, editado e publicado pelo Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas (CBPF), o jornalista Cássio Leite Vieira faz justamente isso.
A obra traz uma coletânea de reportagens escritas pelo autor ao longo das
últimas décadas. São textos que fornecem um panorama dos grandes avanços
científicos da física nos séculos XIX e XX. Dividido em três partes, o livro
aborda primeiro a física internacional, depois a física no Brasil e, por
último, apresenta resenhas de livros sobre grandes cientistas da área. Os
textos são escritos em linguagem simples e são acessíveis mesmo a quem não
possui conhecimentos de física.
Além
de contar como a física evoluiu e a história das grandes descobertas, Vieira
fala sobre a vida dos cientistas por trás delas e fornece o contexto histórico
de cada avanço. Assim, o leitor pode compreender melhor não apenas como uma
nova teoria pode mudar a forma de se enxergar a física, mas também como as
ideologias de uma época influenciaram a mente de seus criadores. Algumas das
teorias de John Bell sobre mecânica quântica, consideradas filosóficas,
ganharam força com o movimento hippiedos Estados
Unidos do fim da década de 1960. A frase do físico norte-americano John Clauser
ilustra a relação entre história e ciência: ‘‘A guerra do Vietnã dominava os
pensamentos políticos da minha geração. Sendo um jovem físico naquele período
de pensamento revolucionário, eu naturalmente queria ‘chacoalhar o mundo’”.
Esses
bastidores da ciência continuam com histórias sobre relações e debates entre
pesquisadores. Exemplo disso são as discussões entre o físico alemão Albert
Einstein e o dinamarquês Niels Bohr, classificadas por alguns como “o maior
debate filosófico do século passado”. Einstein buscou provar que a mecânica
quântica, teoria defendida por Bohr para explicar fenômenos em escala
microscópica, estava equivocada por indicar apenas as probabilidades de um
fenômeno ocorrer, e não a “certeza”. Einstein também criticava o fato de que,
segundo a teoria, depois de duas partículas interagirem, surgiria uma
“comunicação instantânea” entre elas. Em algumas situações, essa comunicação
teria que ocorrer em uma velocidade superior à da luz, o que ia contra as
ideias de Einstein. Entretanto, esse fenômeno se demonstrou real e ficou conhecido
como emaranhamento.
Outro
atrativo do livro de Vieira é discutir as implicações e as aplicações práticas
de descobertas da física teórica. O emaranhamento, por exemplo, pode ser
utilizado no futuro para criptografar dados, aumentando a segurança e a
privacidade de informações. Mesmo a descoberta do bóson de Higgs, que o autor
reconhece como não tendo nenhum impacto direto em nossas vidas, teve
consequências indiretas – a tecnologia necessária para fazer a sua descoberta
levou à criação do sistema World Wide Web, uma das linguagens usadas na
internet.
A
obra traz também a história dos principais nomes da física brasileira. Desde a
geração de cientistas que surgiu em nosso país na primeira metade do século
XIX, como Mario Schenberg, Joaquim Costa Ribeiro, Marcelo Damy de Souza Santos
e Sonja Ashauer, até a geração atual, incluindo o matemático Artur Ávila,
laureado em 2014 com a Medalha Fields, o “Nobel” da matemática.
Entre
diversas histórias, o autor narra como Cesar Lattes, talvez o mais conhecido
dos físicos brasileiros, esteve envolvido na descoberta e na primeira produção
artificial de partículas subatômicas chamadas mésons-pi – responsáveis por
mediar a força que mantém prótons e nêutrons unidos no núcleo de um átomo – e
como seu papel foi fundamental para o desenvolvimento da física experimental
brasileira. Demais nomes, como o de José Leite Lopes e Jayme Tiomno, também são
lembrados e discutidos com maior aprofundamento por Vieira.
Além
disso, histórias menos conhecidas da física brasileira são contadas. Por
exemplo, a de como uma comunidade de físicos japoneses, no Brasil, ajudou o
desenvolvimento da física de partículas no Japão após a Segunda Guerra Mundial.
História da física: artigos, ensaios e
resenhas está
disponível gratuitamente e pode serbaixado
pela internet.
Boa notícia para todos os interessados em aprender mais sobre física.
Ricardo Aguiar é biólogo com especialização em Divulgação
Científica pelo Labjor/Unicamp.
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