Eletrônica
Câmera quântica vira realidade e
fotografa o invisível
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As câmeras quânticas, bem como as chamadas câmeras de fóton único, que também são quânticas, vêm sendo desenvolvidas há vários anos, mas só agora estão-se tornando práticas. [Imagem: Fraunhofer IOF]
Fotografia
quântica
Engenheiros
alemães construíram uma câmera ultrassensível que forma as imagens capturando
uma luz que nunca entra em contato com o objeto que está sendo fotografado.
Ela
funciona com base no entrelaçamento quântico - ou emaranhamento -, o mesmo
comportamento que está sendo usado nos qubits usados pelos computadores quânticos, e que estabelece que duas
partículas de luz, ou fótons, que estejam entrelaçadas, passam a influenciar-se
mutuamente, qualquer que seja a distância que as separe.
As
câmeras atuais funcionam capturando a luz que é refletida pelo objeto que está
sendo fotografado ou filmado. Elas funcionam muito bem para a luz visível, mas
não são boas em outras frequências ricas em informações sobre os objetos, como
a faixa infravermelha (temperatura), ultravioleta ou terahertz.
O
entrelaçamento quântico entra em cena justamente para permitir fazer imagens
desses comprimentos de onda extremos - dito de outra forma, torná-los visíveis.
Para isso, o entrelaçamento "acopla" dois comprimentos de onda
diferentes, aquele que se deseja coletar, e a luz visível.
Câmera
fotográfica quântica
Em uma
configuração conhecida como interferométrica, um feixe de laser é enviado
através de um cristal que divide a luz, gerando dois feixes cujos fótons saem
entrelaçados. Esses dois feixes podem ter comprimentos de onda muito diferentes,
dependendo das propriedades do cristal, mas ainda assim continuarão
intrinsecamente conectados um ao outro devido ao fenômeno do entrelaçamento.
"Então
agora, enquanto um feixe de fótons na faixa infravermelha invisível é enviado
ao objeto para iluminação e interação, seu feixe gêmeo no espectro visível é
capturado por uma câmera. Como as partículas de luz entrelaçadas carregam a
mesma informação, uma imagem é gerada mesmo que a luz que chega à câmera nunca
tenha interagido com o objeto real," explica o professor Markus Gräfe, do
Instituto de Pesquisa em Óptica e Engenharia de Precisão, na Alemanha.
Desta
forma, o fóton gêmeo visível fornece todas as informações sobre o que está
acontecendo com seu gêmeo invisível conforme ele atinge o objeto -
simultaneamente e à distância.
"Nós
fomos capazes de demonstrar que todo esse complexo processo pode ser realizado
de forma robusta, compacta e portátil," disse Grafe. Mas não tão portátil
assim, com a equipe afirmando que deseja agora miniaturizar tudo para o tamanho
de uma caixa de sapatos.
Os experimentos com a fotografia quântica até agora se baseavam em grandes equipamentos, de difícil utilização prática. [Imagem: Universidade de Viena]
Observação
da vida
A captura
de imagens na faixa infravermelha e terahertz promete revelar muitas
informações que permanecem invisíveis aos olhos dos cientistas.
Por
exemplo, bio-substâncias como proteínas, lipídios e outros componentes
bioquímicos podem ser distinguidos com base em suas vibrações moleculares
características. Essas vibrações são estimuladas pela luz na faixa de
infravermelho médio a terahertz e são muito difíceis de se detectar com as
técnicas convencionais de microscopia ou espectroscopia.
Se esses
movimentos puderem ser capturados ou induzidos, será possível ver exatamente
como certas proteínas, lipídios e outras substâncias estão distribuídas nas
amostras de células. Por exemplo, alguns tipos de câncer têm uma concentração
característica ou expressão de certas proteínas. Isso significa que a doença
pode ser detectada e tratada com mais eficiência.
O
conhecimento mais preciso da distribuição das bio-substâncias pode trazer
grandes avanços também na pesquisa de novos medicamentos.
Microscópio
de varredura quântico
O
princípio também pode ser usado na faixa espectral ultravioleta: a luz UV
danifica facilmente as células, de forma que amostras vivas são extremamente
sensíveis a essa luz, limitando significativamente o tempo disponível para
investigar, por exemplo, processos celulares que duram várias horas ou mais.
Como
menos luz e doses menores de radiação penetram nas células dos tecidos durante
a operação da câmera quântica, elas podem ser observadas e analisadas em alta
resolução por períodos mais longos sem correr o risco de serem destruídas.
Outro
passo que a equipe espera dar é criar um microscópio quântico de varredura. Em
vez de a imagem ser capturada com uma câmera de campo amplo, ela será
digitalizada, semelhante a um microscópio de varredura a laser.
Os
pesquisadores esperam que isso produza resoluções ainda mais altas de menos de
um micrômetro, permitindo o exame de estruturas dentro de células individuais
com ainda mais detalhes - as células medem cerca de dez micrômetros, em média.
A longo prazo, eles querem ver a imagem quântica integrada nos sistemas de
microscopia existentes como uma tecnologia básica, reduzindo assim as barreiras
para os usuários do setor industrial.
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