Artigo de
brasileiros sobre fósforo negro entra no rol dos mais citados
Com
informações da Agência Fapesp - 19/06/2018
A figura mostra uma representação artística de um floco de fósforo negro
sendo iluminado por um laser verde. A luz vermelha representa a luz espalhada
com energia diferente da incidente sendo que este efeito é conhecido como
espalhamento Raman. Ao girar o cristal, as medidas de dependência angular deste
efeito deveriam se comportar conforme a linha cinza mostrada no gráfico no
final da luz vermelha, no entanto, comportam-se conforme os pontos verdes no
mesmo gráfico.[Imagem: Henrique Bücker Ribeiro]
Sucesso
Depois do isolamento do grafeno, em 2004,
outro material em escala nanométrica (bilionésima parte do metro) também muito
promissor despontou em razão de suas propriedades semicondutoras: o fósforo negro, ou fosforeno.
E, da mesma forma que o
conhecimento sobre o grafeno vem se acumulando
desde a sua descoberta, o fósforo negro também só vem sendo compreendido aos
poucos.
Uma descoberta importante foi
feita em 2015 por uma equipe brasileira, das universidades Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo, e Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com
pesquisadores das universidades Nacional de Cingapura e de Antioquia
(Colômbia).
Na ocasião, Henrique Ribeiro e
seus colegas conseguiram explicar uma propriedade observada experimentalmente,
mas até então não compreendida do fósforo negro.
Demonstrando a importância da
descoberta, o artigo entrou na seleta lista de 1% mais citados em comparação
com outros trabalhos publicados em seu campo de estudo, de acordo com os Essential
Science Indicators.
Fósforo negro
O fósforo negro é um cristal com
estrutura sanfonada, composta por camadas bidimensionais de fósforo empilhadas
com apenas um átomo de espessura. O material apresenta uma característica
chamada anisotropia, pela qual suas propriedades físicas variam dependendo da
direção - ou ângulo - do cristal.
"Em uma direção, os átomos
na estrutura do material estão dispostos de um jeito e em outra direção estão
ordenados de forma diferente. Desse modo, ao medir, por exemplo, a
condutividade elétrica do material em uma direção o resultado é um, e em outra
direção o resultado é diferente", explicou Henrique.
A fim de estudar esse fenômeno,
os pesquisadores utilizaram espectroscopia Raman, técnica que permite obter
informação química e estrutural de quase qualquer material por meio da análise
da luz espalhada por ele.
A técnica consiste em incidir a
luz de um laser sobre um material. A luz interage e perde energia para as
vibrações do material, induzindo a redução da sua frequência. As energias de
vibração de cada material são únicas e podem ser usadas como uma
"impressão digital" dele, uma vez que cada material tem tipos de
átomos diferentes, com ligações também específicas.
Ao analisar a luz espalhada ou
refletida pelo material por meio dessa técnica é possível saber exatamente qual
é a energia de vibração e, consequentemente, conhecer um cristal estudado.
Em 2016, a mesma equipe observou que o fosforeno apresenta vibrações que
alteram a luz [Imagem: H. B. Ribeiro et al. - 10.1038/ncomms12191]
Conhecimento para futuras
aplicações
"Conseguimos oferecer, com
base em dados experimentais, explicação para um comportamento anômalo observado
quando um laser incide sobre um cristal de fósforo negro e é espalhado
inelasticamente. Percebemos que não só a intensidade da luz espalhada, mas
também a sua fase [propriedade encontrada em todas as ondas] varia com o ângulo
que a polarização da luz incidente faz com o cristal. A variação da fase é
normalmente desconsiderada.
"A partir dessa explicação,
outros pesquisadores que estudam fósforo negro e outros cristais similares
começaram a citar nosso artigo, pois é essencial levar em consideração esse
fenômeno para ajustar dados e compreender bem os resultados
experimentais," detalhou Christiano José Santiago de Matos, um dos autores
do estudo.
Na avaliação dos pesquisadores,
suas descobertas contribuem para caracterizar melhor o material, considerado
extremamente promissor para futuras aplicações eletrônicas e optoeletrônicas.
O fósforo negro pode, por
exemplo, ser usado em transistores, desempenhando as funções lógicas
necessárias em sistemas digitais; em detectores de luz, transformando energia
luminosa em corrente elétrica para sistemas de comunicações ópticas (fibra
óptica) ou para células células fotovoltaicas; e em novos emissores de luz para
as comunicações ópticas.
Bibliografia:
Unusual angular dependence of the Raman response in black phosphorus
Henrique Bücker Ribeiro, Marcos A. Pimenta, Christiano J. S. de Matos, Roberto Luiz Moreira, Aleksandr S. Rodin, Juan D. Zapata, Eunézio A. T. de Souza, Antônio H. Castro Neto
ACS Nano
DOI: 10.1021/acsnano.5b00698
Unusual angular dependence of the Raman response in black phosphorus
Henrique Bücker Ribeiro, Marcos A. Pimenta, Christiano J. S. de Matos, Roberto Luiz Moreira, Aleksandr S. Rodin, Juan D. Zapata, Eunézio A. T. de Souza, Antônio H. Castro Neto
ACS Nano
DOI: 10.1021/acsnano.5b00698
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